Evento
SÁBADO 20 NOVEMBRO, 16H00
Samuel
Blaser & Marc Ducret
Samuel Blaser trombone
Marc Ducret guitarra
A
crescente atenção que, em edições mais recentes, o Guimarães Jazz tem dedicado
ao auditório secundário, onde concertos de menor perfil mediático têm lugar,
prende-se com razões que estão intimamente ligadas aos mecanismos atuais de
funcionamento do circuito da música em geral, e do jazz em particular. Se por
um lado continuam a ser dominantes os princípios de autorregulação do mercado
musical, extraídos a partir de considerações, cada vez mais obsoletas e
desligadas da realidade, sobre as supostas preferências do público, é
igualmente evidente que hoje as fronteiras entre aquilo que se designa por arte mainstream e por, do lado oposto, arte “independente” parecem também
cada vez mais esbatidas e em processo de esvaziamento de sentido. Nesse
sentido, a programação de concertos para um auditório de menor dimensão no
contexto de um festival que se propõe radiografar as tendências principais da
criação jazzística contemporânea abre a possibilidade, potencialmente
expansiva, de mostrar ao público músicos e projetos estéticos que, apesar de ou
em resultado dos seus elementos de marginalidade ou heterodoxia em relação às
formas canónicas, apresentam características diferenciadoras que,
frequentemente, acabam por ser uniformizadas pelo tempo e seu efeito
transformador no gosto e nas mentalidades.
O duo
formado por Samuel Blaser e Marc Ducret encaixa perfeitamente na ideia de
programação que pretendemos desenvolver para o auditório secundário. Embora de
gerações e com experiências criativas muito diferentes, Blaser e Ducret são
ambos músicos de grande virtuosismo e cultura musical, que partilham uma
atração pelo risco e pela disrupção das fórmulas impostas pela indústria
musical, qualidades criativas que são exploradas com intensidade numa
performance sonora e física expansiva em que a irregularidade da
contra-narrativa é sublimada em sacrifício da previsibilidade das convenções.
Nascido
em 1981, o trombonista e compositor suíço Samuel Blaser corporiza o espírito
terceiro-milenar da música europeia, caracterizado essencialmente pela
incorporação de um vasto espectro de influências no ato criativo e pela fluidez
de discursos potenciada pelo novo esperanto sonoro gerado pela globalização. Ao
longo dos seus vinte anos de atividade no jazz e seus territórios adjacentes,
Blaser tem guiado o seu trabalho artístico por uma constante procura das
dimensões relacionais do projeto musical, materializada por colaborações com
músicos importantes da música contemporânea de tendência vanguardista como
Pierre Favre, Gerry Hemingway ou Paul Motian, ao mesmo tempo que se dedica à
exploração dos limites do seu instrumento a solo, operando o som a partir das
diferentes qualidades arquiteturais e acústicas do contexto onde grava ou atua.
Decorridos
mais de trinta anos desde que se começou a notabilizar como uma das figuras
proeminentes da nouvelle vague do jazz francês das décadas de 1980 e
1990, o guitarrista Marc Ducret é atualmente considerado, em virtude de um
percurso de notável integridade ética e ousadia estética, um dos nomes mais
influentes nos domínios da música improvisada e experimental contemporânea.
Músico autodidata, Ducret foi durante o período inicial da sua carreira membro
da prestigiada French National Jazz Orchestra, da qual eventualmente se
libertou para prosseguir o seu trabalho como líder, a solo ou como sideman em projetos seminais do avant-jazz como o grupo Bloodcount de Tim Berne, o
grande saxofonista norte-americano como quem Ducret colaborou regular e
intensamente ao longo do tempo.