Se muitas vezes consideramos impuro o jazz produzido na Europa, em virtude da necessária transplantação mimética de princípios melódicos e ritmos aparentemente estranhos ao cânone da música ocidental, é, porém, forçoso reconhecer que da academia universitária têm surgido músicos e compositores que, com as suas diferentes visões do jazz e em diferentes configurações, interpretam fielmente a matriz tradicional do jazz de origem afro-americana. Niels Klein, um discípulo de Frank Gratkowski e Claudio Puntin na Musikhochschule Köln, é um desses exemplos, sendo disso prova o trabalho meritório que tem desenvolvido em colaboração com reputadas orquestras de jazz alemãs como a WDR e a NDR Big Band, ambas já conhecidas do Guimarães Jazz. Além desta vertente da sua atividade, Klein é reconhecido também pelas suas participações em álbuns de outros artistas como Florian Ross e Frank Wingold, ao mesmo tempo que colabora regularmente com nomes importantes do jazz e de outros territórios musicais, nomeadamente Toots Thielemanns, Bob Brookmeyer ou Markus Stockhausen.

O convite endereçado ao Niels Klein Trio (formado, além do saxofonista, pelo contrabaixista Matthias Akeo Nowak e pelo baterista Fabian Arends) para realizar o concerto de colaboração com a Orquestra de Jazz de Guimarães nesta edição do festival desenha de alguma forma uma linha de divergência em relação ao passado desta parceria. A mudança de paradigma deve-se ao facto de no trabalho de Niels Klein, ao contrário dos compositores que em anos anteriores abraçaram este projeto (como Marco Barroso ou Nels Cline, entre outros), a improvisação assumir preponderância sobre a composição, favorecendo assim uma maior dinâmica criativa com a orquestração e permitindo que a fluidez da criação em tempo real seja exponenciada pelo rigor composicional dos arranjos orquestrais.