Evento
QUINTA 11 NOVEMBRO, 19H30
The Vijay Iyer Trio
Featuring Linda May Han Oh and Tyshawn Sorey
Vijay Iyer piano
Linda May Han Oh contrabaixo
Tyshawn Sorey bateria
O
concerto inaugural do Guimarães Jazz 2021 é um exemplo paradigmático de como a
expressão multicultural, baseada no cruzamento de diferentes heranças culturais
e musicais, se tornou, por razões de várias ordens que excedem em muito a
dimensão puramente artística, a tendência dominante na cultura contemporânea.
No caso específico do jazz, pode dizer-se que ele foi, em diversos sentidos, um
dos percursores modernos de uma nova paisagem musical habitada por formas
miscigenadas e núcleos complexos de memória universalizados pela moldura formal
deste género musical, ela própria construída originalmente a partir da
assimilação e fusão de sons estrangeiros entre si. No novo trio do
extraordinário pianista Vijay Iyer, formado também por Linda May Han Oh e
Tyshawn Sorey, dois excelentes músicos da cena jazzística nova-iorquina, os
elementos culturais cruzam-se para dar origem a uma música polirrítmica e
poli-harmónica que tenta sintetizar as forças da ordem e do caos envolvidas no
tumultuoso processo de gestação de um novo mundo híbrido.
Apesar de
possuir formação em violino clássico, o pianista norte-americano de ascendência
indiana Vijay Iyer (n. 1971, EUA) é essencialmente um músico autodidata com um
currículo educativo multidisciplinar que incluiu estudos em matemática, física,
cognição musical e, finalmente, em composição e improvisação. Após ter decidido
enveredar definitivamente por uma carreira na música, este pianista tem vindo a
desenvolver ao longo das últimas décadas um corpo de trabalho notável enquanto
compositor, improvisador e colaborador de nomes fundamentais do jazz e da
música contemporânea tais como Roscoe Mitchell, Steve Coleman e, mais
recentemente, Wadada Leo Smith. O percurso de Vijay Iyer é também marcado por
duas relações artísticas epicentrais: no território mais estrito do jazz com o
saxofonista Rudresh Mahanthappa e, numa outra órbita de expressão musical, com
o produtor de hip-hop e poeta Mike Ladd. Nos anos mais recentes, Iyer tem-se
dividido entre o trabalho de composição para filmes, concertos e peças de
dança, e a criação musical pura, da qual se destaca o álbum em trio “Accelerando”,
de 2012, o duo com o histórico trompetista Wadada Leo Smith, e, mais
recentemente, o seu trabalho enquanto líder do seu sexteto. Músico eclético e
cerebral, Iyer apresenta já uma obra que, nas suas múltiplas dimensões e
intenções artísticas, se pode considerar uma das mais relevantes do jazz
contemporâneo.
O projeto
mais recente de Vijay Iyer é precisamente este trio em que o pianista é
acompanhado pela baixista malaia Linda May Han Oh e pelo baterista
norte-americano Tyshawn Sorey, e do qual resultou o álbum “Uneasy”, editado em
2021 pela prestigiada editora de jazz ECM. Neste seu segundo trabalho em trio,
Iyer reúne composições originais suas criadas ao longo de vinte anos de
trabalho, para além de duas reinterpretações de Cole Porter e de Geri Allen, e
transfigura-as a partir do som particular criado por dois músicos que, além de
orbitarem em universos musicais semelhantes, partilham um propósito comum de
dissolução de fronteiras formais e exploração de espectros alargados de
sentido. Tal como o título do álbum indica, a música deste trio soa inquieta e
turbulenta como os tempos que a assombram, toldados por uma atmosfera implícita
de ameaça, mas, no entanto, as suas energias malignas são eletrificadas em
função da possibilidade regenerativa da criação do novo.